Afinal, porque precisamos de pesquisas eleitorais?
“Fiz uma enquete nas minhas redes e o resultado é bem diferente do que diz a sua pesquisa”. “É só ir na rua pra ver que esse resultado está errado”.
Entenda por que frases como essas só reforçam a importância das pesquisas eleitorais.
Nossas caixas de entrada estão lotadas de questionamentos como esses (gente, sério). É que muita gente acredita que o fato de um instituto não acertar o resultado de uma pesquisa é indício de que todas as pesquisas são inúteis. Há também quem descredibilize os resultados de uma pesquisa quando os números não correspondem às suas impressões pessoais. Em comum, isso levanta uma questão importante: por que fazer pesquisas eleitorais?
A resposta é que pesquisas eleitorais, quando seguem os melhores protocolos de qualidade, são EXTREMAMENTE úteis. São uma forma sistemática, amparada por décadas de avanços estatísticos, na demografia e em diferentes ciências sociais, de entender visões e opiniões da população.
O grande diferencial das pesquisas eleitorais é que elas são planejadas a fim de contemplar com equidade os diferentes grupos de uma população, para que nenhum grupo seja sobre ou sub-representado.
Dessa forma, tanto homens quanto mulheres, pessoas pobres ou ricas, que vivem no Sul ou no Norte, são contempladas de acordo com os pesos que têm na população brasileira. Além disso, pesquisas eleitorais são aplicadas por profissionais treinados para abordar pessoas e registrar suas respostas.
E nos melhores institutos as respostas são checadas e consistidas várias vezes, o que diminui as chances de haver entendimentos diferentes sobre alguma questão, ou respostas não correspondentes à pergunta.
A legislação eleitoral colabora para garantir padrões de transparência e qualidade nas pesquisas eleitorais divulgadas. No Brasil, institutos de pesquisa são obrigados a registrar suas metodologias publicamente no site do TSE quando divulgam resultados.
Não só isso, os Institutos também disponibilizam a lista dos locais onde as entrevistas foram feitas, em geral com indicações bem precisas — na Quaest, divulgamos até mesmo nomes de ruas dos entornos onde as abordagens são realizadas.
É por seguir uma série de procedimentos rigorosos que os resultados de pesquisas frequentemente são diferentes daqueles apurados em enquetes na internet ou nas redes sociais, onde o recorte de público respondente acaba traduzindo apenas a preferência de uma bolha específica.
Há um caso clássico de 1936, nos Estados Unidos, quando a revista The Literary Digest fez uma enquete com 2 milhões de seus leitores perguntando em quem votariam na eleição presidencial daquele ano. Mesmo entrevistando tantas pessoas, o resultado errou por muito.
É que a maioria dos leitores da revista era de classe média, diferentes do restante da população. Quando entrevistamos apenas pessoas que pensam de forma parecida, corremos sempre o risco de cometer o mesmo erro da Literary Digest.
Se perguntamos a amigos ou vizinhos em quem irão votar, é possível que repitam os mesmos nomes, e isso não necessariamente significa que o restante da população brasileira pensa da mesma forma. É por isso que pesquisas eleitorais são tão importantes.
Com suas amostras feitas seguindo procedimentos estatísticos que evitam sobre ou sub-representar diferentes grupos, pesquisas retratam não o que um determinado grupo pensa, mas o que a população como um todo pensa.
Com isso, é possível que políticos e a mídia possam identificar quais os maiores problemas da população, mesmo entre grupos minoritários, que residem em lugares distantes ou que não têm acesso tão direto ao Poder Público.
A população, por sua vez, também aprende com pesquisas. Sem elas, é difícil saber, por exemplo, a parcela de pessoas que estão desempregadas, ou o que a sociedade pensa sobre a Economia e a Saúde Pública.
Assim como uma amostra de sangue permite identificar doenças, amostras da população, quando bem desenhadas, permitem saber o que se passa na cabeça da população. Contudo, não significa que institutos de pesquisa não errem ou que pesquisas sejam infalíveis.
Ao contrário, pesquisas podem errar (em parte, o erro faz parte e é previsto pelas pesquisas). Contudo, desde que os erros não sejam sistemáticos, as pesquisas seguem sendo um dos instrumentos mais eficazes para entender o que pensa a população.